Um artigo de opinião de Elsa Frazão Mateus, antropóloga e presidente da Liga Portuguesa Contra as Doenças Reumáticas.
Mal somos gerados, inicia-se o processo de envelhecimento. Dia após dia, o nosso corpo vai-se construindo, destruindo e reconstruindo, com base nas heranças e predisposições genéticas que recebemos e em fatores ambientais, comportamentais e ocupacionais.
Perante qualquer problema de saúde é-nos perguntada a história familiar e sabemos que a exposição à poluição atmosférica, o tabagismo e algumas posturas em contextos de trabalho, por exemplo, são determinantes no aparecimento de certas doenças. É, pois, fundamental lembrar que a saúde pode ser facilitada pela adoção tanto de hábitos e estilos de vida saudáveis, por cada um de nós, como da promoção da saúde em todas as políticas (de transportes, de urbanismo, de condições laborais, entre outras).
A nossa legislação define doença crónica como “a doença de curso prolongado, com evolução gradual dos sintomas e com aspetos multidimensionais, potencialmente incapacitante, que afeta, de forma prolongada, as funções psicológica, fisiológica ou anatómica, com limitações acentuadas nas possibilidades de resposta a tratamento curativo, mas com eventual potencial de correção ou compensação e que se repercute de forma acentuadamente negativa no contexto social da pessoa por ela afetada”.
Ou seja, mesmo controlada, é uma doença para a vida, que transforma e transtorna por completo a vida de quem é diagnosticado e daqueles que lhes são próximos, com a agravante de raramente vir só, ensombrada por outras doenças crónicas.
Ainda existem áreas desconhecidas
Apesar da evolução do conhecimento científico, ainda existem áreas desconhecidas sobre a prevenção, o diagnóstico precoce ou cura para muitas doenças, que apelam ao investimento em novas respostas. As inovações devem ser incentivadas e adaptadas ao ambiente sociocultural das pessoas atingidas pela doença, às suas vivências, crenças, expectativas e atitudes perante a doença, incapacidade e dependência.
Neste sentido, a biofarmacêutica Celgene tem uma bolsa de 10 mil euros para novos projetos centrados nas pessoas com doenças oncológicas e nas doenças crónicas ou debilitantes do foro reumático e do sistema nervoso. Podem candidatar-se, de 15 de maio a 15 de junho, instituições portuguesas sem fins lucrativos, como associações de doentes, sociedades científicas e profissionais e outras entidades coletivas.
As doenças crónicas são, segundo um relatório recente, responsáveis por 88,5% dos anos vividos com incapacidade pelos portugueses, sendo os problemas músculo-esqueléticos responsáveis pela sua maioria (23%).
Além do impacto das doenças musculoesqueléticas na vida profissional das pessoas, a própria atividade profissional pode ser, em si, um fator de risco, sendo elevada a frequência de lesões relacionadas com o trabalho em vários setores. Uma intervenção nas condições laborais poderá reduzir esses problemas, tal como a adoção de estilos de vida saudáveis reduz alguns fatores de risco associados a muitas das doenças crónicas, oncológicas e degenerativas (tabagismo, obesidade, entre outros).
Em qualquer doença crónica, a melhoria da qualidade de vida depende, essencialmente, do acesso atempado aos tratamentos adequados e da educação das pessoas afetadas para a gestão da sua doença e promoção da sua saúde. Mas depende, também, de uma maior sensibilização do público em geral para essas doenças crónicas – e do envelhecimento, em particular.
Um artigo de opinião de Elsa Frazão Mateus, antropóloga e presidente da Liga Portuguesa Contra as Doenças Reumáticas.